segunda-feira, 23 de setembro de 2019

1° dia - Mercado Khalili/Citadela/Bairro Copta - Cairo - Egito

22/09/19

Acordamos tarde pra recuperar da viagem, com isso acabamos saindo 12h. Como estamos juntinhos das pirâmides, todo o resto fica longe. Amihr (nosso "motofriend")  nos levou direto para o Mercado Khalili para conhecer e fazer comprinhas.



Ele indicava as lojas, as ruas e negociava os preços. Nos disse para não falar com as pessoas e deixar que ele falasse e isso me incomodou MUITO. Foi viajando que descobri meu dom de "negociadora", e deixar tudo nas mãos de um desconhecido me dá a impressão que estou sendo enrolada. Entramos em uma tenda de couro porque Thib queria um porta-moeda. Tentei não me meter, pois vi que estavam trabalhando juntos. Ele saiu com uma carteira linda,  por um preço aceitável. Depois fui eu... queria comprar calças e túnicas... no começo não tinha me dado conta do real valor, mas Thib me deu uma chacoalhada que me mostrou o quanto tô perdida. 

Esses tempos vivendo na Europa me fizeram perder muito a noção de realidade. Lá o preço dado é o preço pago. Se você não quer pagar o vendedor não insiste e você sai de mãos abanando. Tudo funciona (saúde, transporte, educação...), então a preocupação da população é com a natureza, que não é pouco importante, mas não é considerada uma primeira necessidade. Aqui é outra realidade! A pobreza é grande, então o povo tem que encontrar uma forma de ganhar a vida. Se eles podem cobrar mais eles vão cobrar! E todos sempre te pedem gorjeta, seja por uma foto, seja por informações, TUDO! E no fim é super difícil dizer não. Então, aqui, negociar preços é SUPER IMPORTANTE! Dizer não TAMBÉM!

Enfim! Tinha separado 2 túnicas e 4 calças. Ele queria cobrar mais caro que lojas indianas nos shoppings do Brasil. Consegui negociar e diminui bem o preço. No fim tirei 2 calças, e mesmo assim saiu um pouco caro. O vendedor não ficou muito contente de baixar o preço e perder parte da venda, e tenho a impressão que Amihr tampouco, mas tudo terminou bem.


Como demoramos muito no mercado, Amihr nos apressou por todo o resto do dia. Fomos à Citadela, que é muito bonita, mas não pudemos desbravá-la como gostamos por não termos tempo. Visitamos a Mesquita no topo que é ESPETACULAR. O lugar é ENORME e para entrar temos que tirar os sapatos. Existe uma parte aberta onde estavam montando umas estruturas como se fosse ter uma palestra ou apresentação. O edifício tem carpete no chão inteiro e um teto todo trabalhado.



Saímos dessa Mesquita para continuar nossa caminhada quando Amihr nos liga para continuar no bairro Copta, que é o bairro dos cristãos, conhecido por ter sido caminho da Sagrada Família na fuga para o Egito. Ao chegarmos entramos na Igreja suspendida onde fica a pintura da "Monalisa Copta". Acho que vimos umas 3 dessa espalhadas pelo local. O lugar é todo feito em madeira e cheio de carpetes e cortinas, me lembrou muito algumas construções em Sevilha/Espanha.




Esse bairro tem muita coisa a se ver, mas não tem sinalização indicando os pontos turísticos. Nossa sorte era ter um chip e buscar tudo por GPS. Rodamos um pouco mais até encontrar Amihr, que nos levou à uma Mesquita onde mulheres só entram de véu. Como aqui estou preparada para tudo tinha meu echarpe na bolsa. 😉



Já eram umas 18h quando voltamos para o hotel. Ao chegarmos pedimos um bom Koshari e comemos no terraço para aproveitar da vista e descansar cedo para o dia seguinte.



domingo, 22 de setembro de 2019

Preparando a viagem e chegando no Cairo - Egito

Então, gente, acho que muitos sabem, mas nem todos, que fazer uma viagem internacional é preciso sonho, planejamento e ação. No meu caso, a viagem para o Egito é um sonho de criança, porém o planejamento foi "basicamente" pulado e a ação veio por acidente. 😂😂😂

Meu plano inicial era viajar com o Thibault (prazer, o francês) para algum lugar na Ásia e continuar sozinha na China para visitar minha galega Allana (amiga de outras vidas), porém dindin não nasce em árvore e a galega talvez não tivesse disponível, então decidimos ir para Tailândia.

Pra quem não sabe eu trabalho nas temporadas de verão e inverno, o que me dá grandes férias, a bronca é que durante o período de trabalho não existe vida, impossibilitando de planejar qualquer coisa. Além disso, as férias do Thibault (pronuncia Tibô) são decididas sempre nos últimos momentos, impossibilitando a compra das passagens com avanço. Nesta história de deixar para último minuto, trocamos o destino várias vezes, deixando para confirmar tudo uma semana antes!

Passagens compradas, agora era preparar o roteiro, reservar hotéis e organizar as mochilas. Eu e o Thib gostamos de viajar barato, sem tour organizado e decidindo tudo no calor do momento, quando bate a vontade. Li alguns blogs, sites dos governos da França e do Brasil e fui me preparando. Tudo que todos fazem é assustar!!! 😲😲😲 Onde ir e não ir, o que mulheres devem vestir, como mulheres devem agir, o que não fazer, UM TERRORISMO TOTAL!! Todos falam o quanto o Egito é perigoso (terroristas X assédio com mulheres X extorsão contra turistas). Isso é HORRÍVEL, tanto pro país que fica com uma imagem ruim, tanto pros estrangeiros que, se depois de toda essa informação ainda viajam, chegam aterrorizados.

Esse último foi o meu caso!! Estou eu, chegando no país que sonhei a vida inteira em conhecer, com medo de tudo e de todos. Cada passo imagino que vai chegar um egípcio tentando me extorquir, sem conseguir olhar para as pessoas e/ou para os lugares e coisas pensando que vão querer arrancar meu dinheiro. Pernas e ombros? Esconde tudo pra não oferecerem camelos em minha troca. O único que ainda não senti foi a pressão contra o terrorismo.

A realidade é a seguinte: egípcios são negociadores (escutei que isso é normal do povo árabe). Eles tentam vender seu produto, mesmo se você não olhar. Eles te param no meio da rua e te oferecem papiros, bugigangas, passeios, taxi, TUDO!! É um povo pobre e trabalhador, que tenta ganhar a vida com tudo o que tem: a boca e a vontade. Em relação ao assédio não vivi nada demais. Meu namorado escutou que era um cara de sorte por "me ter" e eu vi alguns olhares "gulosos", de resto é MUITO MAIS TRANQUILO QUE O BRASIL!! Talvez isso mude para mulheres que viajam só, mas sinto que acompanhadas não tem perigo. Tudo isso é a minha experiência de um dia. Isso, graças a nossa vontade de estar no meio do povo, caminhando com gente local, em lugares não turísticos e "se arriscando" como um egípcio.

Bom, agora vou tentar contar como chegamos aqui e porque tenho as impressões que relatei anteriormente.

Pegamos o vôo em Lyon às 8h30 com escala em Roma. Vimos algumas casas de câmbio no aeroporto, mas não trocamos nada (grande erro). O hotel que reservamos enviou um email oferecendo serviço de transfer a 20$ pros 2 e decidimos aceitar, pois eram 45min de caminho. Quando aterrissamos perdemos um tempo até entender o processo de visto. Tudo é escrito em árabe e inglês, mas a sinalização é um pouco confusa. Então, antes de pegar as malas temos que preencher um pequeno papel e comprar um selo que custa 25$. Passamos na fila de migração onde eles pegam a ficha e colam o selo no passaporte. Depois disso é só pegar as malas e partir.


Saímos e não encontramos nosso transfer, então aproveitamos para comprar um chip local com internet. São 3 operadoras (orange, vodafone e uma 3° que esqueci o nome) que tem quiosque, uma ao lado da outra, bem à frente da saída do desembarque. Com telefone funcionando, ligamos para o hotel que nos colocou em contato com o motorista. Levamos pouco mais de 1h para chegar pois paramos para tirar algumas fotos. O Royal Pyramid Inn fica quase na frente das Pirâmides de Gizé e temos um terraço no teto onde podemos ver o espetáculo noturno das pirâmides diariamente.



Depois de nos instalar decidimos sair ao redor para conhecer e comer. Tentamos não olhar diretamente para pessoas, lugares ou objetos: missão quase impossível. Sempre tem alguém oferecendo algo, mesmo se você não der atenção. Um senhor nos abordou e começou a nos convidar para entrar na sua loja. Como continuamos caminhando ele tentou mil formas de nos conquistar e nos seguiu por 2 quarteirões até descobrir que buscávamos comida, então nos "arrastou" até um restaurante. Foi assustador, porque nenhum vendedor jamais me seguiu tanto tempo. Dentro do lugar consegui convencê-lo a nos deixar tranquilos, mas sabíamos que íamos encontrá-lo novamente quando voltassemos ao hotel. Que momento angustiante!!!

Voltamos a caminhar numa área não turística onde ficamos mais relaxados e encontramos um pequeno restaurante. Só existia um prato, o senhor não falava nada de inglês e passamos uns bons minutos tentando nos comunicar. Alguns outros homens chegavam mas ninguém nos entendia até que um nos ajudou. Mais um problema: não tinhamos pesos egípcios!!! 😲😲😲 O mesmo homem que traduziu disse que podia trocar dinheiro. Demos 2€ e ele pagou em egípcios. A saber que 1€ são 18EGP e os 2 pratos custaram 20EGP. Eu, preparada para desconfiar do mundo, pensei logo: "ele já tá tirando proveito!!" E como uma bela resposta do destino, veio o homem e nos devolve os 2€ dizendo: "Toma o seu dinheiro" - e pagou o nosso jantar com seus egípcios - "Os egípcios são boas pessoas!". Do jeito que ele chegou ele partiu, e me deixou com a cara no chão. No fim o senhor do restaurante e seu colega pediram para tirar foto com a gente. Ficamos tão felizmente chocados!!! E com isso voltei muda para o hotel repensando em tudo que eu tinha lido e em tudo que passamos em tão pouco tempo.



Ainda não posso dar uma opinião concreta sobre o Egito, só sei que a cada minuto tenho sido surpreendida. Espero terminar essa viagem com os pensamentos totalmente diferentes dos que cheguei.

sábado, 21 de setembro de 2019

Ressurgindo das cinzas...

21/09/19

Então, gente, tô de volta!!
O sumiço foi longo, mas não foi por falta de história... Pra começar queria atualizar a todos, pois meu último post foi em fevereiro de 2015 e eu estava no Parque Sajama na Bolívia.

Foi uma época muito reveladora, onde eu me colocava à prova o tempo todo e começava a sentir um mix de emoções. Conheci muita gente pelo caminho, boa e ruim, fiz lindas amizades, algumas que duram até hoje, e vivi histórias que nem eu acredito.

Eu continuei escrevendo alguns rascunhos de cada dia importante, mas as postagens estavam cada vez mais difíceis de serem finalizadas. Não foi falta de tempo ou de novidades, mas comecei a me sentir desestimulada. Estava passando por momentos difíceis e tinha dúvidas se eu poderia continuar a viajar com o dinheiro que restava. Por fim eu consegui me reestruturar e seguir me aventurando.

Consegui trabalhos em troca de hospedagem e comida e conheci uma das  melhores amizades que tenho até hoje. A viagem durou até novembro de 2015 com o meu retorno "surpresa" e um francês à tira-colo para dar outra reviravolta na minha vida.

Hoje vivemos na França de um jeito ainda meio mochileiro. Nesse percurso aprendi alguns idiomas, trabalhei duro, viajei para lugares que nunca pensei que chegaria, e é por isso que decidi continuar escrevendo.


Falando em viagem, tô aterrissando no Cairo... EXATAMENTE!!! TÔ NO EGITO!!! Mas essa parte fica pro próximo post... 😂😂😂 Depois conto tudo em detalhes. 


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

81° dia - Sajama

02/02/15

Faz uns dias que tenho acordado entre 5h e 6h com sonhos (às vezes pesadelos) completamente diferentes, e ao despertar estou agitada e com o nariz tapado sem conseguir respirar bem. Hoje no entanto a história mudou um pouco. Acordei, com o nariz um pouco entupido, mas respirando bem. Do sonho/pesadelo eu não lembro, mas acho que tive. A questão é que não estava agitada e fiquei depois por conta de dois acessos de falta de ar.

Comecei a lembrar de uma história que me contaram nessa viagem, de uma pessoa que estava sentindo falta de ar, mas que não foi levada a sério logo de cara porque tinha mania de dizer que estava doente. Resumindo: levaram para o hospital e o médico, ao realizar todos os exames, concluiu que a membrana externa do pulmão tinha endurecido, e por isso estava difícil respirar. Este é um caso raro que acontece com pouquíssimas pessoas. No caso dela foi por conta de uma pneumonia que teve a tempos. Ficou internada por uns 2 meses e depois morreu.

Sajama é um povoado muito pequeno que parece deserto. Não se vê uma alma andando pela rua. Não vi nenhum hospital ou posto de saúde e todos possuem um alojamento que também é restaurante, mas estão sempre fechados. Apenas uma dispensa, além das que existem nos hostels, nenhum mercado ou delegacia. Nada!!! Estou isolada num paraíso sem pessoas!

Comecei a pensar onde estou e as condições do lugar. Ônibus só saí para uma cidade maior 1 vez por dia que é às 5h da manhã. Chega da "cidade grande" pela tarde, mas acho que vai pra outras cidades que talvez sejam ainda menores. Sem problemas com a morte, o que me assusta é a falta de estrutura médica próxima. Se sinto algo não tenho a quem recorrer. Não me agrada saber que posso agonizar até o fim por falta de acesso a atendimento básico.

Fiquei umas horas tentando me acalmar até pegar no sono. Acordamos quase 10h e fomos comer. O céu estava começando a abrir. Walter não sabia de nada, mas percebeu que eu não estava bem. Conversamos e contei o que havia passado. Estava com medo de sair da cama e de forma muito inteligente me disse que eu decidia, mas que se estivesse no meu lugar não ficaria isolado pois poderia ser pior, então decidi seguir com ele.

Antes de começar a caminhada ele me deu um lindo presente que animou meu dia. Uma llama bebê que não foi aceita pela mãe e estava sendo cuidada pela dona do hostel em uma área cercada por trás dos quartos. Um bichinho tão dócil e frágil que me encantou. Sua carinha meiga, com olhos arregalados e pestanas grandes. Impossível não se apaixonar!

Depois de mimar a llamita seguimos passeio. 1h40 de caminhada de ida para relaxar a cabeça, ativar a circulação e fortalecer o corpo. Um campo aberto de vegetação rasteira com espinhos, rebanhos de llamas curiosas em todos os lados, montanhas com picos nevados ao fundo e um céu pintado de azul com bolas de algodão coladas formando as nuvens. O clima estava frio, mas o sol nos fazia de marionetes brincando de se esconder, para tirarmos e colocarmos os casacos.

Em 1h chegamos a um outro povoado que estava bem ao centro de uma bifurcação. Para a esquerda a placa indicava Payachata, e para a direita Gueyseres. Este foi o primeiro ponto que vimos sinalização. Seguimos nosso rumo por mais 40 minutos.

Pouco antes do lugar existe um tipo de entrada, marcado com pedras nas laterais do caminho, e em uma pedra grande foi pintada uma caveira com a descrição PRECAUCION ! Com isso fiquei bem cautelosa para não me machucar, pois sei como sou desastrada. Depois descobri qual o perigo.

Os geiseres são piscinas naturais de água quente que vem de baixo da terra. Algumas fervem forte de borbulhar e a maioria está sempre fumaçando. De algumas saem pequenos corregos, e são estas que resfriam pelo movimento, tornando a água morna sendo possível entrar. Suas bordas são frágeis, tornando a aproximação perigosa, por issi o aviso.

Chegamos, tiramos umas fotos e curtimos o calorzinho. Com meus pânicos e muita conversa sobre como a água me acalma Walter sugeriu que na volta eu sentasse próximo à água e meditasse. Fiz melhor! Tirei as botas e sentei na beira de um dos córregos mornos com os pés na água. Água, terra, ar e fogo (sol), os 4 elementos trabalhando enquanto eu meditava. Depois da meditação um bom alongamento com os pés ainda descalços. Isso me renovou e pude seguir viagem mais tranquila.

Voltamos para a cidade e tiramos muitas fotos pelo caminho. A geografia do lugar é bem curiosa e nos deixou intrigados. Já perto da cidade passamos por rebanhos de llamas e ovelhas. Chegamos famintos, mas a dona do hostel não estava, então compramos lanches numa venda. Comemos, descansamos e esperamos a janta. Essa noite foi agitada, pois o restaurante do lugar tinha franceses, alemães, argentinos e eu de brasileira. Conversamos bastante até dar a hora de dormir. A lua estava cheia para abrilhantar o resto da noite gelada.

80° dia - Indo para Sajama

01/02/15

Acordamos tranquilos e organizamos tudo para chegar o quanto antes em Sajama, mas descobrimos que teríamos que esperar até 12h para pegar um transporte que nos levaria à estrada principal e lá passaria o ônibus que sai de Patacamaya. Exatamente! Nos enganaram como tolos por conta de nossa ansiedade. A estrada estava a 5km de Curahuara, não de Sajama, e o único transporte que vai para lá sai de Patacamaya às 12h.

Enfim, bancamos os bobos, mas valeu o aprendizado. Tomamos o café-da-manhã mais almoço da minha vida, pois rodamos toda a cidade e não existia uma padaria ou restaurante. As hospedagens também não estavam servindo nada. Sentamos na praça e comemos um prato de arroz com salada e umas batatas que uma senhora estava servindo. Ali mesmo ficamos esperando mais de hora até aparecer uma van que sairia para Patacamaya e passaria por Cruces, que era o cruzamento de estradas onde ficaríamos.

Falamos com o motorista, sentamos e esperamos mais outra hora, que era o tempo do carro encher e dar 12h para seguirmos viagem. Poucos minutos antes de sairmos, chega um senhor perguntando se ainda tinha vaga. Havia exatamente 1, porém este senhor estava com mais 2 pessoas e todos iam para Patacamaya. Prontamente o motorista disse que tinha lugar para os 3 e falou para Walter e eu descermos. Não entendi o que ele queria fazer, então perguntei onde nós iríamos e a resposta foi: "Vocês não vão!". Nesse momento fiquei estática sem entender o que estava acontecendo quando Walter começou a discutir. Logo eu despertei e comecei a questionar junto. Disse que para ele era melhor levar os outros que iriam mais longe e pagariam a mais e que podíamos pegar um táxi. Com isso comecei a me indignar, então apareceu um bebado perguntando de onde éramos e que temos que respeitar o país dele, que a prioridade não é nossa porque não somos daqui. Posso dizer que não voei no pescoço de ninguém por pouco e isso me tirou do sério a ponto de ter uma crise de choro forte.

Descemos da van porque Walter teve pena dos passageiros que não estavam nem um pouco comovidos com nossa história e só queriam se livrar de nós para seguirem viagem. Admito que minha reação se estivesse só seria bem infantil, mas poderia passar o dia sentada na van até o motorista resolver me levar. Por sorte Walter me levou, pois só teríamos até 13h para chegar a Cruces e seguir para Sajama.

Um dos motoristas da cidade viu toda a discussão e nos ofereceu transporte até Cruces pelo mesmo valor de um táxi (B$10). Prontamente aceitamos, mas minha indignação não me permitiu relaxar tão cedo. O motorista que nos levou a Cruces foi o mesmo que nos trouxe até a cidade e desconfio que estava no bolo que nos confundiu com informações trocadas. Não sei se por conta da minha raiva, mas neste momento não consegui confiar em ninguém. Para mim todos são pessoas mercenárias que pouco se importam com qualquer próximo que seja.

Ficamos no cruzamento esperando o ônibus, mas tínhamos que ter paciência pois só passaria em 40 minutos. Por sorte em pouco tempo passou uma van que nos levou até Sajama por B$12 os dois. A viagem foi tranquila e levou em torno de 2h. A cidade parecia fantasma de tão deserta, mas conseguimos nos hospedar em um hostel bem confortável chamado Pachamama, o único que funcionava no momento.

A dona estava servindo almoço para uns hóspedes que já estavam de saída, então pediu que esperássemos para organizar nosso quarto. Enquanto isso fui conhecendo os arredores. Poucos minutos depois todos foram embora, também almoçamos e, depois de tudo pronto, guardamos tudo nos quarto e fomos passear.

Bem próximo à cidade existe um mirador que chega a 4550m de altura. Claro que já estávamos bem altos, mas subimos até o ponto máximo. Em grande parte da minha vida fui bem sedentária, mas fazia caminhadas sem sofrer tanto, pois o desgaste físico nunca foi extremo. Porém, nunca imaginei estar bem fisicamente e sentir desgaste pulmonar. Sempre soube que quanto mais alto, menos ar para respirar, mas nunca pensei que passaria por isso.

Meu corpo estava intacto, mas meu coração acelerou como poucas vezes, e o ar que entrava era gelado e insuficiente. Walter já vinha se preparando com folhas de coca, então resolvi prová-las. Realmente ajudam, mas não são suficientes. Passei a caminhar bem devagar e tentei regular a respiração. Admito que foi bem difícil, mas o fim da caminhada compensou. A vista é incrível e dava para ver Sajama e outro povo mais distante.

No topo deste mirador existem dois espaços para cerimônias. O caminho é sinalizado, com lixeiras, tudo à pedra. O céu parecia pintura, com algumas partes chuvendo a ponto de nevar, em outras com um sol forte que esquentava. Estavamos num ponto de meio termo, onde o sol não aparecia, mas ainda não chovia. Curtimos a paisagem, agradecemos o espetáculo e regressamos.

Dei uma volta pela cidade que é linda e bem pequena e voltei. Tomei um banho e fomos jantar. Uma sopa bem quente para aliviar o frio, um prato com ovo e purê e um chá para finalizar. Voltamos para o quarto para descansar, pois amanhã será puxado.

79° dia - Minas/Huanuni

31/01/15

7h saímos da hospedagem em busca de algo para comer. Encontramos barracas nas rua com café-da-manhã e logo selecionamos o que queríamos. Comemos rápido para chegar na hora e conseguimos ainda 5 minutos de antecedência. Pablo chegou logo em seguida, mas esperamos uns poucos minutos por seu funcionário Alex.

Pegamos um táxi em direção a uma mina de estanho que fica dentro da cidade. Lá encontramos o chefe do sindicato dos mineiros que nos guiou durante a visita junto com um funcionário, que cuidava da nossa segurança. Nos entregam capacetes com lanternas e estão a todo tempo nos guiando para não ocorrerem acidentes.

A mina é bem mais fria que fora. Possui um total de 10 andares, e a distância de um andar para outro é de aproximadamente 45 metros, totalizando 450 metros de trabalho abaixo da terra. Os pisos mais fundos estavam isolados por estarem alagados.

Antes de entrar na mina pensei bastante se deveria, pois já tinham me alertado que seria um passeio claustrofóbico, mas perguntei para o responsável pela segurança se poderia retornar caso não me sentisse bem, e ele disse que sim. Pablo também foi super atencioso comigo. Disse que não entraríamos muito e a todo momento questionava sobre meu bem estar.

Entramos na mina por um caminho largo com pouca iluminação. Passamos por algumas áreas cercadas, onde existem bonecos vestidos de mineiro representando caa função realizada por eles. Por fim chegamos a um salão principal onde estão os elevadores. Estes são pequenos e levam, se não me engano, até 8 trabalhadores apertados como se fosse uma lata de sardinha.

Nesse momento havia uma fila enorme esperando sua vez para iniciar seu turno. A mina funciona 24h e possui 5.000 mineiros que revezam em turnos de 8h. O cheiro de gás é fraco, mas bem perceptível, imagina nas profundezas da mina, onde a ventilação é mais difícil. Para quem visita esta primeira parte que é bem ventilada por uns poucos minutos é tranquilo, mas para quem trabalha 8h diárias pir toda uma vida, posso dizer que é um suicídio lento.

Observando aqueles trabalhadores descendo apertados naquele elevador comentei logo que não desceria. Eu não suportaria tamanho aperto combinado com a ideia de não saber quanto tempo eu levaria para voltar caso me arrependesse. Além de não saber o tamanho dos corredores de trabalho que já tinham comentado ser bem menores. Por sorte disseram que a visita só seria naquele piso.

Do salão principal seguimos por traz dos elevadores e entramos em uma área de cerimônias. Os mineiros as fazem para El Tio, mais conhecido por todos como Diabo. Eles acreditam que o tio cuida do mundo subterrâneo e para seu trabalho ter sucesso sem acontecerem acidentes oferecem bebidas e fumo para ele.

Do local de cerimônias seguimos por um pequeno e estreito corredor, onde existe uma imagem do diabo sorrindo com cervejas, e passamos para uma das áreas cercadas com representações dos trabalhos dos mineiros. Nos explicaram cada função, tiramos algumas fotos e voltamos para o salão principal. Conhecemos a casa de máquinas, de onde se controlam os elevadores e assim foi concluído o tour.

Fora da mina Walter realizou algumas entrevistas para seguirmos passeio. Saímos andando da montanha até chegar ao museu antropológico. De lá pegamos uma van que nos levou até uma feira. Nesta feira pegamos outra van até Huanuni.

Já em Huanuni paramos na Rádio Nacional dos Mineiros, a mais antiga da Bolívia. Lá nos unimos a uma equipe de reportagem que nos levou até umas ruínas na beira da estrada. Neste ponto encontraríamos um guia que nos levaria até outro lugar que não sabíamos onde era. Na realidade acho que ninguém sabia bem o que fazíamos e o que veríamos ali, mas estavam todis bem curiosos.

Saímos da cidade, pegamos a estrada de volta e encontramos o guia no caminho. Este nos guiou até uma ponte velha que já havíamos passado. Esta seguia do acostamento até a beira da montanha, passando por cima de um rio. Lá foram realizadas várias entrevistas, e descobrimos que esta ponte levaria até uma trilha para o topo do cerro onde existem ruínas pré-incaicas. Possivelmente estas ruínas tem entradas para a parte interna da montanha formando caminhos que talvez levem até Machu Pichu, no Peru. Infelizmente não pudemos subir por conta do tempo que estava fechando, e com chuva o caminho fica perigoso. Com certeza se só tivesse eu e Walter nos arriscaríamos, mas tinham muitas a nossa espera e não existia forma para regressar, caso resolvêssemos ficar.

Concluidas as entrevistas, regressamos para a rádio. Lá também ganhamos uma visita guiada e descobrimos que o lugar fez parte de ações guerrilheiras contra a ditadura. A rádio chegou a ser invadida por militares, os quais mataram vários integrantes. Ainda existe um armário de metal da época que possui buracos de balas. Também descobrimos que Huanuni foi rota de Che Guevara durante sua luta pela Bolívia.

Saímos de lá para um restaurante para comer algo e beber uma cerveja em comemoração ao passeio tão enriquecedor que Pablo nos proporcionou. A comida estava deliciosa: carne de llama seca e desfiada com uns grãos brancos que, se não me engano, era um tipo de milho daqui.

Voltamos todos para Oruro felizes e satisfeitos, e como ainda era cedo resolvemos seguir para Sajama. Passamos na hospedagem, pegamos nossas mochilas e corremos para o terminal. Conseguimos pegar bem rápido o ônibus, e pelos cálculos, chegaríamos ainda claro em Patacamaya para pegar algum transporte para Sajama.

Já em Patacamaya buscamos rápido um transporte para Sajama e ninguém sabia informar. Alguns disseram que deveríamos dormir ali porque só existia um ônibus que sai para Sajama, e este sai 1 vez por dia às 12h. Não conseguimos acreditar e aceitar isso. Para pegar este transporte e aproveitar o lugar teríamos que dormir 2 noites, então continuamos procurando na esperança de encontrar outra opção.

Passamos por um grupo que nos falou da opção de ir para Curahuara e depois seguir para Sajama, pois as duas cidades estão a 5km de distância uma da outra. Então resolvemos pegar esse carro e seguir viagem.

Em Curahuara chegamos bem tarde e chovendo. A cidade estava deserta e apenas uma venda funcionava. Resolvemos buscar hospedagem e conseguimos logo de cara um quarto BEM CONFORTÁVEL! Não tinha água quente, mas nesse momento, tudo que queríamos era uma cama. Comemos umas bolachas, tomamos água e essa foi nossa janta. Dormimos felizes e tranquilos. Amanhã nos preocupamos com o que não pudemos resolver hoje.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

78° dia - Oruro

30/01/15

Acordei mais calma, novamente meditei, tomei um bom banho quente e já saí com outro ânimo. Paramos no centro turístico porque estava no caminho e conhecemos Pablo, que é antropólogo e chefia a parte turística de Oruro.

Como quase não vi na Bolívia tivemos um atendimento de primeira. Nos entregou mapas, panfletos e postais sobre Oruro. O material é muito bem feito e a explicação ainda melhor. Walter comentou sobre seu trabalho do caminho Inca e os olhos de Pablo brilharam. A partir disto nossa visita a cidade se transformou. Pediu que fôssemos passear, mas que voltássemos às 15h para conversarmos, pois talvez ele conseguisse alguns passeios interessantes para amanhã.

Partimos bem animados e com muita fome. Seguimos para o centro por uma via principal onde passam os trens. No meio da rua são montadas muitas barracas e, quando o trem passa, saem desmontando tudo para depois remontarem por cima dos trilhos. É uma cena bem impressionante.

Chegamos a um mercado público e tomamos o café-da-manhã. Começamos a passear e aproveitamos para enviar os postais que ganhamos pelo correio. Tínhamos pouco tempo até a hora marcada com Pablo, mas ainda podíamos recorrer algo.

De repente vimos um desfile de diferentes povos autóctonos com suas vestimentas e instrumentos, tocando e carregando faixas políticas. Não sabíamos o que acontecia, mas tiramos muitas fotos. Depois descobrimos que todos encontrariam o Presidente no topo do morro, que é um ponto turístico por conta da imagem de uma santa.

Voltando para o centro Pablo confirmou um passeio para amanhã. Sairemos às 7h30 do centro turístico para conhecer uma mina de estanho que fica a 30 minutos dali. Depois seguiremos para Huanuni, uma cidade das proximidades cheia de histórias, com direito a minas, Inca e Che Guevara.

Pediu que voltássemos novamente umas 16h30, antes do centro fechar, mas pedimos para prolongar para às 17h para conhecermos o museu antropológico daqui. E assim fizemos: pegamos uma van e fomos beber cultura.

Chegando ao museu fomos bem atendidos e conseguimos uma visita guiada. A primeira parte falava dos Tiwanaku, um povo pré-Inca que percorreu parte da Bolívia, com seus últimos indícios de aparição no Lago Titikaka. Mostraram cerâmicas, adornos, ferramentas e tecidos. Trabalhavam com barro, metal e palha. Tinham casas bem estruturadas para aguentar as intempéries locais e mumificavam seus mortos em posição fetal. Por fim tinha a parte de carnaval, com suas máscaras e fantasias baseadas na cultura mineira, com várias representações do "tio" (diabo - quem comanda e cuida das minas de extração).

A visita ao museu foi enriquecedora e saímos bem animados para o passeio de amanhã, mas estávamos contra o tempo e corremos para encontrar Pablo. Ao chegar ao centro, ele disse que não tinha muito tempo, mas nos convidou para jantar. Eram 17h, mas como não tínhamos almoçado foi o convite perfeito.

Chegamos a um restaurante de frango, logo em frente, e ele logo foi fazendo o pedido de todos. Pagou, nos pediu desculpa, mas não pôde nos acompanhar, pois teria que levar pessoalmente uns documentos, mas depois estaria novamente no centro turístico. Concluímos o almoço/janta que estava delicioso, passamos apenas para agradecer e confirmar o passeio de amanhã e fomos em busca de uma bebida gelada.

Havia um restaurante, parte de um hotel, bem perto de onde estávamos, onde ficamos. Pedimos uma coca gelada e descobrimos que havia wifi. Como este é um item raro, pedimos cerveja e aproveitamos para mandar notícias. Por fim regressamos à hospedagem, pois teríamos que descansar bem para o dia puxado que seguiria.